O torii é um elemento arquitetônico tradicional do Japão, geralmente associado à entrada de santuários xintoístas.
Com sua forma característica (duas colunas verticais unidas por duas traves horizontais), o torii simboliza a transição entre o mundo profano e o mundo sagrado.
Muito além de um simples portal, ele representa uma profunda ligação espiritual com a cultura japonesa, suas crenças e sua estética.
Origem e simbolismo
O significado do torii está intimamente ligado ao xintoísmo, a religião nativa do Japão. Em sua função mais evidente, ele marca o início de um espaço sagrado, chamado jinja (santuário).
Ao cruzar um torii, o visitante está entrando num local dedicado aos kami; divindades, espíritos ou forças da natureza que habitam o mundo espiritual.
Etimologia
A palavra “torii” (鳥居) é composta por dois ideogramas: “tori” (鳥), que significa “pássaro”, e “i” (居), que significa “morada” ou “lugar de estar”. Uma das interpretações mais comuns associa o torii a um poleiro para aves sagradas, especialmente galos, que são mensageiros dos deuses.
Função ritual
Além de servir como um marco físico, o torii tem uma função simbólica essencial: separar o espaço dos humanos daquele dos deuses. Ao passar sob ele, acredita-se que o visitante purifica sua presença, deixando para trás as impurezas do cotidiano para se conectar com o sagrado.
Arquitetura e variações
Embora a estrutura básica do torii seja relativamente simples, existem diversas variações em seu design, cada uma associada a diferentes períodos históricos, escolas arquitetônicas ou tipos específicos de santuários.
Torii Shinmei
É o tipo mais simples e antigo. Possui colunas retas e traves horizontais lisas, sem curvaturas ou ornamentações. Costuma estar presente em santuários mais antigos ou ligados à tradição imperial.
Torii Myōjin
É um dos estilos mais populares e reconhecíveis. Suas traves superiores são curvas e projetam-se para fora, conferindo um ar mais dinâmico à estrutura. Também apresenta uma viga auxiliar chamada gakuzuka, onde pode estar inscrito o nome do santuário.
Torii Ryōbu
Este estilo é geralmente encontrado em santuários que mesclam elementos do budismo com o xintoísmo, como aqueles pertencentes à escola Shingon. Possui traves mais espessas e robustas, com colunas que se alargam na base.
Torii Miwa
Também chamado de torii triplo, apresenta três portais interligados, sendo mais raro. Está associado ao culto de montanhas sagradas, como o Monte Miwa.
Localização e paisagem
O torii está presente em diversos contextos, não apenas em santuários localizados dentro de cidades. Muitas vezes, ele aparece em locais naturais, como montanhas, florestas, lagos e até no mar, como forma de integrar o ambiente à espiritualidade.
Torii flutuante de Itsukushima
Talvez o mais famoso torii do Japão, o portal vermelho do santuário de Itsukushima, na ilha de Miyajima, é conhecido por parecer flutuar sobre a água na maré cheia. Com mais de 16 metros de altura, é um dos ícones mais fotografados do Japão e considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Caminhos de torii
Alguns santuários possuem fileiras extensas de torii que formam túneis coloridos e simbólicos. O mais conhecido é o Fushimi Inari Taisha, em Kyoto, que abriga milhares de portais vermelhos alinhados por trilhas que sobem a montanha dedicada ao kami Inari.
Cores e materiais
O torii pode ser feito de diferentes materiais, como madeira, pedra, concreto ou metal. A cor mais associada a ele é o vermelho-vivo, conhecido como vermilion (shu-iro), pigmento que representa proteção contra o mal e purificação espiritual. No entanto, também há torii cinzentos, pretos ou mesmo brancos, dependendo do santuário e de sua tradição regional.
Relevância cultural e espiritual
O torii não é apenas um símbolo religioso, mas também um elemento estético e identitário profundamente enraizado na cultura japonesa. Sua imagem é frequentemente utilizada em arte, arquitetura, design gráfico e até em logotipos turísticos do Japão.
Em festividades
Durante festivais religiosos, como o matsuri, o torii pode ser decorado com lanternas, fitas e bandeiras. O local também serve como ponto de passagem para cortejos, orações e rituais de purificação com água ou sal.
Turismo e espiritualidade
O torii é uma das primeiras imagens que vêm à mente ao pensar no Japão. Muitos visitantes buscam esses portais como símbolo da experiência espiritual e da contemplação. Fotografá-los ao amanhecer, em meio à neblina ou ao pôr do sol é uma prática comum entre viajantes e fotógrafos.
Expansão do símbolo
Embora de origem xintoísta, o torii transcendeu as fronteiras do Japão. Réplicas do portal são encontradas em comunidades japonesas no exterior, em templos budistas e até em jardins orientais. Em muitas culturas ocidentais, ele é associado à ideia de tranquilidade, espiritualidade e harmonia.
Conclusão
O torii é mais do que um arco tradicional: é um símbolo de passagem, de respeito ao invisível e de conexão com o sagrado.
Sua forma simples e elegante condensa milênios de história, crença e arte do povo japonês. Ao passar sob um torii, o visitante não apenas entra em um santuário; entra também em um universo de significados que dialogam com o divino, com a natureza e com a essência da cultura japonesa.